Imagen ilustrada basada en fotografías del contexto real de las comunidades.

Giovanni Salazar.
Colombia | Perú | Brasil

Yakuruna: filhos e sementes do rio

Cocreadores

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Jun 15, 2021 Compartir

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O “sentir” do povo Ticuna ou Magüta estão relacionados à Yakuruna, o espírito do rio. As vozes dos indígenas da comunidade San Francisco de Loretoyaco (a 15 minutos por via fluvial de Puerto Nariño, na tríplice fronteira amazônica da Colômbia com o Brasil e Peru), compartilham o significado do yakuruna, sua conexão com seus ancestrais e com a vida .

Mas suas vozes também narram com preocupação a força que a Yakuruna está perdendo com a contaminação das águas do rio Amazonas e os diversos afluentes que banham seus territórios, o desmatamento e o ‘saque’ da mãe selva.

Ficha técnica

Tipo de conteúdo: sonoro
Data de realização: 2021
Título da série: Vozes da Amazônia - Ouça, a memória fala!
Realizado(ra): Ünãgükü Taüchina (Cindy Amalec Laulate Castillo)
Lugar: Colômbia, San Francisco de Loretoyaco, Amazonas.
Duración: 00:12:43”

Yakuruna, o ser da água para os  Ticuna, cujo espírito está enfraquecido

Os rios sagrados e misteriosos da Amazônia estão afetados por múltiplas práticas e dinâmicas alheias às tradições, sentimentos e formas de conceber o mundo daqueles que vivem ancestralmente e sustentaram a vida em harmonia, como os indígenas Ticuna ou Magüta. Na tríplice fronteira amazônica entre Colômbia, Brasil e Peru, há preocupação com os danos contra Yakuruna.

Uma das conexões ancestrais e naturais da vida dos índios Ticuna ou Magüta é  Yakuruna, o ser da água. Os habitantes da comunidade de San Francisco de Loretoyaco, do lado colombiano na tríplice fronteira entre Colômbia, Brasil e Peru, lutam para que o rio Amazonas e seus afluentes, como o Loretoyaco, mantenha o espírito que foi se debilitando ao longo dos anos pela poluição, pelo desmatamento e a transgressão do sagrado e espiritual.

Para os Ticuna, os rios são a essência da vida em comunidade. Sua conexão com a água representa a existência, o sustento, a comunicação, a cura, a saúde e o seu próprio ser. Os Ticuna são reconhecidos como as pessoas pescadas por Yoi, do Lago Eware, de acordo com a Lei de Origem dessa etnia indígena. É por isso que o Yakuruna, como o espírito da água, os acompanha desde sua existência.

“O Yakuruna era um médico tradicional que vivia dentro d'água. A palavra Yakuruna significa o médico tradicional (Yaku), e o fundo do rio (runa). É a mãe, o pai e o dono do rio Amazonas e de qualquer lagoa ”, explica Ismael Laulate Curico, médico tradicional indígena do clã Garza, a partir de sua visão de mundo.

A força do Yakuruna está na abundância e no mistério da pesca, no navegar, nas curas, nos rituais e até mesmo nos banhos. São muitas as histórias de médicos tradicionais indígenas e sabedores que reconhecem a importância do Yakuruna, porque o equilíbrio e a harmonia de riachos, rios e lagoas tem a ver com a sua presença e a proteção que proporciona. Rituais sagrados como o “pelazón” (para os Ticuna do lado brasileiro, trata-se do Ritual da Moça Nova) , onde o banho de rio representa o início do ciclo da vida da mulher, centro da festa ancestral, que mostra a viagem entre o sagrado e o cotidiano.

No entanto, a força do espírito do Yakuruna está desaparecendo. A maioria dos indígenas de San Francisco de Loretoyaco, que tem cerca de 526 pessoas, segundo o censo mais recente realizado pelo curaca (líder) da comunidade, asseguram que a relação com a água e seus seres vem mudando por várias causas, como o desmatamento, o tráfico de pessoas e o tráfico de drogas, que afetam o equilíbrio e a harmonia. San Francisco de Loretoyaco é uma das 22 comunidades que fazem parte da reserva Ticoya (formada pelos indígenas Ticuna, Cokama e Yagua, localizados nos rios Amazonas, Atacuarí, Amacayacu e Loretoyaco).

“O tráfico de drogas impacta o núcleo familiar, cultural e comunitário. Essa atividade é vista como uma opção de ganho de recursos, que escolhe quase sempre os jovens por falta de oportunidades, para eles, que mesmo depois de meses de produção muitas vezes nem conseguem esse recurso; eles são levados a se envolver na venda ou no consumo dessas substâncias ”, afirma um integrante da Associação de Autoridades Indígenas Aticoya, que solicitou não ter seu nome divulgado.

Para a grande nação Magüta, que não reconhece fronteiras, seu cotidiano, conhecimentos e tradições naturalmente entrelaçados e conectados pelo rio Amazonas, são cada vez mais afetados por atores externos que devastam o equilíbrio único da floresta amazônica e suas comunidades.

“Sabemos que os resíduos químicos e do narcotráfico são despejados nas cabeceiras dos rios, imagino o impacto que tem na água da qual nos alimentamos, tomamos banho e até bebemos; agora não dimensionamos, por isso o futuro nos assusta , quando já dá para ver esse impacto fisicamente ”, acrescenta o sócio da Aticoya.

A pesquisadora Viviana Garcia Pinzón, em artigo para a revista Opera Magazine (2018), explica que “(...) a importância da Amazônia para o narcotráfico está em todas as hidrovias que possui, já que muitas direta ou indiretamente desembocam no rio Amazonas no Brasil (...) ".

Habitantes das comunidades lembram como o narcotráfico começou sua incursão na floresta amazônica com lavouras, laboratórios artesanais e trilhas clandestinas. Estas últimas foram as primeiras construções que se avistaram nas comunidades, e atualmente, alguns dos sinos das escolas são constituídos por elementos que pertenceram aos aviões da época. As pistas de pouso foram destruídas, mas longe de ir embora, este parasita alienígena muda de rosto e dinâmica enquanto permanece presente.

O porta-voz da Aticoya também cita que famílias e jovens de comunidades com oportunidades e alternativas limitadas tem como sustento do dia a dia, a colheita das folhas de coca, os trabalhos de no processo de produção da cocaína) e diversas tarefas nas lavouras e laboratórios artesanais que, se diz, têm rota direta para o Brasil e, de lá, para o resto do mundo.

Os moradores contam que barcos carregados de insumos e estrangeiros são vistos passando pelo rio Amazonas e seus afluentes, e resíduos químicos e lixo flutuam em suas águas.

É assim que a conexão com as águas e o espírito do Yakuruna vem se diluindo. A essência do cuidado, mistério e ritualização não estão tão presentes na vida dos povos indígenas.

Essa é a luta pela sobrevivência das comunidades. Para os Ticuna ou Magüta, é necessário continuar a vida com o mestre espiritual do rio, o Yakuruna, que com seu silencioso nadar mantém a conexão e a proteção dos povos.

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