Imagen ilustrada basada en fotografías del contexto real de las comunidades.

Giovanni Salazar.
Colombia

Dança do cariçu: o sentir do pueblo Cubeo na cidade

Feb 15, 2021 Compartir

Consulta este contenido en los idiomas y lenguas

O povo Cubeo que vive em Bogotá (Colômbia), dança para se sentir em seu território. A partir da capital colombiana, eles relembram seus avós, para firmar raízes em sua identidade indígena, ser a voz de seu povo e construir a paz com amor e cultura. Junte-se aos dançarinos de cariçu em uma jornada para a selva, nos ensinando o poder de resiliência e a unidade da comunidade desde a cidade!

Ficha técnica

Tipo de conteúdo: Sonoro
Ano de realização: 2021
Título da série: Vozes Amazonía - Ouç, a memoria fala!
Realizado(ra): Daniela Alejandra Arias Baquero.
Lugar: Bogotá, Colombia
Duração: 00:14:43

“A dança para sentir o território”

O cariçu, um instrumento de sopro, é a voz de povos amazônicos como os Cubeo em Bogotá, capital da Colômbia. Depois de sofrer o deslocamento forçado de suas localidades de origem, por causa do conflito armado, hoje eles fortalecem sua cultura na cidade grande, a milhares de quilômetros de distância de seu território de origem, as florestas de Vaupés, e esperam acessar oportunidades de educação e trabalho.

Na manhã em que Édgar Gutiérrez escapou de ameaças, levava apenas um pouco de pescado e “casabe”, ou beiju, como é conhecido por alguns indígenas brasileiros, alimento feito a partir da mandioca.

Ele lembra que partiu para Bogotá, capital da Colômbia, em 2009, para proteger sua vida. Saiu de sua comunidade, Urania, localizada a cinco minutos de Mitú, região de Vaupés, na parte alta da Amazônia colombiana, na fronteira com o Brasil. 

Passaram-se 12 anos desde que Èdgar chegou a uma das cidades mais povoadas do país, com 7.412.566 habitantes em 2018, segundo o Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE).

“Eu me sentia sozinho na cidade, minha situação era crítica ... Trabalhei em residências e depois na construção, onde conheci outros cabildos (organizações sociopolíticas  tradicionais na Colômbia) indígenas”, diz ele em um tom lento mas firme.

En el 2015, junto con otras familias del mismo pueblo Cubeo que llegaron desplazadas, formaron el cabildo indígena “en contexto de ciudad”, como se expresa el líder, para promover su cultura en los espacios de participación y ser reconocidos por las instituciones. 

“Estar na cidade me motivou a elevar minha organização e fortalecer meus conhecimentos”, afirma. Foi ali, no meio de um mundo estranho ao seu, onde um dia sonhou em voltar para a selva e começou a dançar o cariçu.

Sentir o território

Entre as ruas e o alvoroço do povo, Édgar, um homem de pele morena e olhos negros profundos, vive em comunidade.

Os Cubeo ou Pamiwa, "Filhos da ancestral sucuri", também são reconhecidos como Kubeo, Cobewa, Hipnwa e Kaniwa, originários do Vaupés, e são 16 clãs que compartilham seus sentimentos e ações com outros povos por meio da dança. O ritual do dançar é também o meio pelo qual transferem os seus conhecimentos aos mais jovens.

“Eu cresci em Mituseño Urania, a casa mitológica de nosso grande criador, Kuwai”, diz Edgar com orgulho. “Está aí o seu assento, colocado sobre duas pedras que são o berço da nossa cultura, o lugar mais sagrado onde está o nosso conhecimento”, acrescenta.

Édgar expressa que “dança para sentir-se no território”, e em suas mãos sustenta o cariçu, um instrumento de sopro com o qual entoa belas melodias de suas festas tradicionais.

Mesmo quando querem fortalecer sua cultura, os Cubeo não têm espaço próprio para apresentações de danças e cerimônias e nem o reconhecimento da prefeitura, e por isso precisam se arriscar a alugar locais na cidade para isso.

- Posso harmonizar o espaço ?, Edgar pergunta à garçonete.

Em um restaurante do povo indígena Muisca, no centro de Bogotá, ele e sua comunidade se preparam para acender o fogo. Ao fundo existe uma cozinha comunitária. A construção feita de guadua, um tipo de bambu que amarela quando envelhece, tem chão de terra batida, como também o é em seu território.

Eles começam a compartilhar chicha, uma bebida feita de milho fermentado.

Os homens apresentam seus cocares de penas de arara, seu takaje ou tanga e o jevebua, chocalhos dos pés. As mulheres vestem seus trajes das fibras vegetais de cumaré (ou tucum, como é conhecida no Brasil), com franjas de um laranja intenso. Juntos, com os filhos nos braços e em meio a um clima de alegria, começam a fazer pinturas no rosto e no corpo com o urucum, uma tintura vegetal vermelha.

Nos arredores da sala improvisada, as pessoas que passam na rua se juntam para ouvir o ritmo dos seus passos atrás da porta; é o eco dos seus antepassados ​​para evitar, a todo o custo, a perda da sua cultura.

Liderança e união comunitária

Assim como nas corredeiras as águas agitadas seguem contra a corrente, o Cubeo também toca e dança o cariçu em um ato de resistência na cidade.

“A dança é como a ponta da lança que nos leva adiante no contexto da cidade”, diz Édgar, com uma expressão de força no rosto. Além de ser memória, a dança é também sua principal receita econômica.

Segundo dados da Unidade Atenção Integral e Reparação às Vítimas (instituição governamental por meio da qual medidas de cuidado, assistência e reparação integral são concedidas às vítimas do conflito armado interno colombiano), entre 2002 e 2017 chegaram a Bogotá 12.200 indígenas deslocados em decorrência dos conflitos em seus territórios de origem. Destes, 131 indígenas são do departamento de Vaupés.

Édgar mora com outros membros de sua comunidade no bairro de El Pesebre, na localidade de Rafael Uribe Uribe, cujas casas pintadas de branco no morro são o lugar onde renasce o povo Cubeo todos os dias.

Apesar de seus esforços, está claro que “tem sido difícil viver em Bogotá, porque ainda não fazemos parte dos 14 cabildos legalmente reconhecidos”, ele explica. Essa falta de reconhecimento, por parte da Prefeitura de Bogotá, limita o acesso dos Cubeo a oportunidades de educação e emprego a indígenas que fazem parte desses cabildos, bem como outros benefícios proporcionados pelas instituições públicas.

Atualmente, por exemplo, Édgar explica que “há somente 25 pessoas da comunidade inseridas no sistema de saúde durante a pandemia.

Agenda Propia solicitou repetidamente uma entrevista com um porta-voz da Subdiretoria de Assuntos Étnicos de Bogotá para uma declaração sobre este assunto, mas não obteve resposta.

Além do abandono do Estado, o Cubeo continua a resistir a estar nas sombras do esquecimento. Por isso, eles se expressam perante as instituições e fazem questão de permanecer juntos para se fortalecerem diante das adversidades.

“Com a dança, recebemos a maioria dos irmãos Cubeo de diferentes clãs da cidade. Quando dançamos vivemos essa harmonia entre irmãos, reconhecemos que podemos viver em um ambiente familiar entre nós e a cidade, por isso a compartilhamos ”, afirma.

Em meio às dificuldades, Édgar e a comunidade Cubeo continuam a abraçar o que são, filhos do fumo e do yagé (planta sagrada), do cariçu e de outros instrumentos como o  Mabaco, o Jurupari. É aí, entre as histórias do seu território, que se encontram numa festa em que crianças e jovens são chamados a dançar para recordar a sabedoria de seus avós.

Nota. A série de documentários Vozes da Amazônia - Ouça, a memória fala!, foi produzida em um processo de cocriação com jornalistas e comunicadores indígenas e não indígenas da Rede Tecendo Histórias (Red Tejiendo Histórias, em espanhol), sob a coordenação editorial do meio independente Agenda Própia.

Comparta en sus redes sociales

4366 visitas

Comparta en sus redes sociales

4366 visitas


Comentar

Lo más leído


Ver más
image

Rituales para llamar la lluvia, la respuesta espiritual de los Yampara a la sequía

Espiritualidad para combatir la sequía que afecta a familias indígenas productoras.

image

Indígenas en México son guardianes de la abeja nativa pisilnekmej

La cosecha de la miel de la abeja melipona, especie sin aguijón, es una actividad ancestral de los pueblos indígenas Totonakus y Nahuas en la Sierra Norte de Puebla, en México. La producción beneficia económicamente a las familias y les permite proteger el territorio, pero hay serias amenazas sobre la actividad.

image

Las plantas medicinales, el legado del pueblo Misak

Un sabedor tradicional, una partera y un cuidador protegen el uso de las plantas, uno de los legados del pueblo indígena Misak. En la casa Sierra Morena siembran más de 200 especies de flora que utilizan para sanar las enfermedades físicas y espirituales de sus comunidades en el municipio colombiano de Silvia, en el departamento del Cauca.