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Alter do Chão é Borari

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Jun 15, 2021 Compartir

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A peça sonora conta a história de como três mulheres Borari resgataram sua identidade indígena por meio da arte, da língua e da luta em defesa de seu território, a vila de Alter do Chão, em Santarém (PA), na Amazônia brasileira. Alter do Chão sofre com a especulação imobiliária e o crescimento desenfreado do turismo predatório, que ameaça tanto o meio ambiente quanto a cultura borari.

Os Borari são um dos 180 povos indígenas que vivem na Amazônia brasileira. Eles vivem na região do Baixo Tapajós, às margens do Rio Tapajós. Há aproximadamente 500 famílias Borari (aproximadamente 2.000 pessoas) que vivem em seu território originário, Alter do Chão, conhecida internacionalmente como "Caribe Amazônico". Também vivem por lá cinco mil não indígenas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São pessoas que migram anualmente de diversos estados do Brasil e de outros países para ter um estilo de vida mais conectado à natureza.

Ficha técnica

Tipo de conteúdo: sonoro
Data de conclusão: 2021
Título da série: Vozes da Amazônia - Ouça, a memória fala!
Realizado (ra): Julia Dolce.
Localização: Alter do Chão, Brasil
Duração: 00:33:07

A luta das mulheres Borari para manter seu território em Alter do Chão

No “Caribe Amazônico”, como é conhecido Alter do Chão, uma vila localizada no município de Santarém (PA), as mulheres indígenas Borari resistem por causa de seu território e da visibilidade de suas tradições. O crescimento acelerado do turismo ameaça a cultura Borari. As vozes das lideranças se erguem para narrar como lutam por seus direitos, por meio de cerâmicas, cantos e diversas ações culturais.

A vila de Alter do Chão é conhecida no Brasil e no mundo como o "Caribe Amazônico", por causa das águas verde-esmeralda do Rio Tapajós. É assim, pelo menos, que o governo municipal e o crescente setor turístico de Santarém (cidade paraense da qual a vila faz parte), a classifica. Porém, por trás desse movimento para gerar lucros com o turismo em Alter do Chão, está o fato de a região se situar em uma terra indígena em processo de demarcação, e que os índios Borari sempre viveram lá.

A peça sonora Alter do Chão é Borari apresenta os sons de sua natureza e das águas do Rio Tapajós, que encantam turistas. Mas você vai ouvir, também, como esses sons têm sido cada vez mais abafados pelo barulho de aglomerações de turistas e de construções de hotéis, pousadas e casas de veraneio. Além disso, você também vai ouvir as músicas feitas pelos Borari, que resistem em meio à apropriação de seu território e à invisibilização de sua cultura. 

Os Borari são um dos 180 povos indígenas que vivem na Amazônia brasileira, segundo dados da Enciclopédia dos Povos Indígenas do Brasil. Eles moram na região do Baixo Tapajós, às margens do rio Tapajós. E em Alter do Chão vivem cerca de 500 famílias Borari, cerca de 2.000 pessoas.

 Esta obra, que faz parte do especial Vozes da Amazônia - Ouça, a memória fala!, uma colaboração entre a  Red Tejiendo Histórias, mediada por Agenda Própria, expõe alguns dos principais conflitos fundiários e culturais trazidos pelo crescimento da vila de Alter do Chão e das atividades desordenadas de turismo. 

Foram entrevistadas mulheres Borari, lideranças políticas e guardiãs de traços culturais importantes de seu povo, como a cerâmica tapajônica e os instrumentos musicais tradicionais. O ouvinte descobre o processo mais recente de empoderamento político do povo Borari por meio da auto afirmação identitária de cada entrevistada. 

Vandria Borari é uma dessas mulheres. Advogada e ceramista, ela se reconecta com a sua própria ancestralidade exercendo tanto sua profissão quanto sua atividade com a cerâmica. No campo do Direito, Vandria atua a favor dos Povos Indígenas de Santarém. Produzindo peças de cerâmica, ela se aproxima de seus “antigos”. A presença da cerâmica Tapajônica de muitos séculos, no solo de Alter do Chão, aliás, é uma evidência arqueológica que comprova a presença do povo Borari no território há muito tempo.

A identidade indígena é assumida por Vandria em sua profissão, mas também quando ela amassa o barro para produzir cerâmica. O fortalecimento da identidade ainda é assumida de outras formas pelos Borari. Nilda Borari, por exemplo, ensina Nheengatu, a língua geral amazônica derivada do Tupi antigo. Ela se redescobriu indígena quando aprendeu a língua, na universidade, e lembrou que desde criança ouvia algumas palavras do Nheengatu em casa. Essa língua deixou de ser falada fluentemente pelos Borari, provavelmente  a partir do processo de proibição das línguas indígenas que começou na época da colonização brasileira.

A música também é uma maneira de recuperar a memória dos Borari. Neila Borari, irmã de Vandria, conta como começou a compor músicas desde a infância, sobre os costumes de seus antepassados, e viu como suas obras tornaram-se referência no Festival do Çairé. Esse evento surgiu a partir de uma das mais antigas  festas da Amazônia brasileira: uma cerimônia cristã, trazida pelos padres jesuítas, que foi sincretizada com a cosmologia e a música indígenas. O festival atual se inspira nos 300 anos de festejos do Çairé, mas foi transformado pela Prefeitura Municipal de Santarém em uma festa muito mais comercial. 

As falas das mulheres indígenas estão conectadas com o posicionamento de Jeci Borari, presidenta da Associação Borari Ywyporãga, que analisa como a expansão do turismo desorganizado e do loteamento da vila de Alter para novos moradores também utiliza do racismo e desqualificação dos povos indígenas no Brasil, em oposição à demarcação das terras Borari. 

Isso porque, a vila de Alter do Chão faz parte do perímetro mapeado como Terra Indígena Borari, atualmente com o processo de demarcação travado na Fundação Nacional do Índio, órgão indigenista do governo brasileiro. Se as terras fossem demarcadas, os Borari teriam direito a escolher e coordenar o desenvolvimento urbano da região. Assim, Jeci explica como o crescimento de Alter do Chão anda de mãos dadas com os discursos que anulam a existência indígena na região, e conta como está cada vez mais difícil manter o modo de vida Borari como o crescimento da vila. 

Em Alter do Chão, residem mais 5.000 pessoas não indígenas, segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), que migram anualmente de diversos estados do Brasil e de outros países para ter um estilo de vida mais conectado com a natureza.

O programa termina com um alerta sobre as múltiplas crises vividas atualmente pelos povos indígenas brasileiros no contexto atual, na qual a pandemia de Covid-19 se soma a uma série de políticas e projetos empreendidos pelo atual governo federal, que vão na contramão dos direitos indígenas. Os Borari já foram vacinados por terem sido contemplados pela priorização de vacina para povos indígenas aldeados (que vivem dentro de territórios indígenas demarcados), o que fortalece e prova sua existência e resistência na vila. 

Por outro lado, fake news e ataques foram feitos durante esse processo de vacinação, reproduzindo o discurso de que “não existem indígenas em Alter do Chão”. Isso porque, apesar de os Borari nunca terem deixado suas aldeias, elas foram engolidas pela urbanização de Alter. As notícias falsas mostram como o atual poder político e econômico interessado nas terras e nas águas da região não mede esforços para apagar a existência de uma terra indígena e dos Borari. 

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