Petróleo, coca e conflitos armados: ameaças à sobrevivência do povo Awá
Exploração de petróleo, plantações de coca e grupos armados ilegais ameaçam a sobrevivência do povo indígena Awá no sul da Colômbia.
Toma aérea de la cascada Jirijirimo, lugar sagrado para los hijos de Jaguares de Yuruparí, ubicada en el río Apaporis, al norte del departamento de Amazonas, Colombia.
Juan Gabriel Soler.Consulta este contenido en los idiomas y lenguas
Uma empresa canadense há anos tenta extrair ouro e outros minérios do território indígena dos Jaguares del Yuruparí, na Colômbia.
Robin Elkin Díaz Miraña, indígena Macuna, protege a pureza do conhecimento de sete povos que compartilham a Reversa e Parque Nacional Natural Yaigojé Apaporis, localizado entre os departamentos do Amazonas e Vaupés, na Amazônia colombiana. Robin vem lutando há mais de uma década contra empresas multinacionais e a mineração ilegal que tentar levar a riqueza de seus ancestrais, como o ouro.
Yaigojé Apaporis, um território amazônico de 1.056.023 hectares, é o lar dos povos Cabillarí, Tanimukas, Letuamas Yahunas, Yuhup, Barazano, Yauna e Macunas. Um total de 22 comunidades vivem juntas ao redor das grandes bacias hidrográficas do Pirá Paraná, Apaporis, Mirití Paraná, Caquetá e Vaupés.
Este lugar é formado por um complexo natural de cachoeiras e riachos por "onde corre todo o conhecimento do povo", como dizem os sábios do lugar, e faz parte do grande macro-território conhecido como Jaguares del Yuruparí, que corresponde a uma área de 8 milhões de hectares localizada na bacia hidrográfica dos rios Vaupés e Caquetá, na selva amazônica. Lá, diferentes etnias compartilham o ritual do Yuruparí, o mito da origem da Laguna de Leche e costumes como plantio, pesca e caça.
Hoje, a voz de Robin ecoa alto porque adverte que este macro-território está em risco em meio à pandemia. Por um lado, existem ameaças de mineração ilegal de ouro, e os indígenas temem que o governo conceda títulos de mineração – como já o fizeram no passado – em favor de uma empresa multinacional. Além disso, a Covid-19 está se alastrando por suas comunidades.
"Um dos locais mais sagrados de Yaigojé Apaporis é La Libertad, ou Yuisi, porque é aí que os deuses dizem ser o centro do mundo de todos os povos", diz Robin, um líder que carrega em seu sangue duas culturas amazônicas ancestrais: seu pai é Macuna e sua mãe é Miraña.
Robin recorda um dos episódios da história de sua reserva. Ele lembra que foi em La Libertad onde a empresa canadense Cosigo Frontier, em 2007, tentou extrair ouro, violando direitos fundamentais para a proteção do povo, como a consulta prévia, e dividindo as comunidades. Embora a Cosigo tenha conseguido obter títulos de mineração, sua ação foi interrompida pelas autoridades nativas do território.
"Quando chegou a ameaça de mineração, nos dissemos: garimpar neste lugar é igual a destruir nosso conhecimento, nossas vidas. Os indígenas se impuseram e disseram: não, esta atividade não, nenhuma atividade humana é permitida lá", diz Robin. Esta luta é guiada pelas palavras dos sábios e anciãos dos sete povos que ali vivem e resistem à exploração de borracha, pele e madeira.
"Estes minérios são importantes para nós, para curas, danças e rituais, por isso estamos dizendo que esta atividade não é permitida, por isso dissemos que temos que criar um parque para proteger este território", diz Robin, atual coordenador de Território e Meio Ambiente da Associação de Capitães Indígenas de Yaigojé Apaporis (ACIYA).
O líder acrescenta que uma das maiores conquistas na proteção de seu território ocorreu em 2009, quando as comunidades conseguiram impedir a entrada da Cosigo e concordaram em proteger a área como um parque natural.
Yaigojé Apaporis passou por vários processos. Primeiro, em 1988, a reserva foi criada com uma área de 518.320 hectares. Depois, em 1998, o Instituto Colombiano de Reforma Agrária (Incora) ampliou o território para 1.020.329 hectares e, finalmente, em 2009, o foi constituído como Parque Nacional Natural e completou os 1.056.023 hectares.
Robin acrescenta que a multinacional também dividiu as comunidades. "A multinacional começou a desinformar os locais para tentar convencê-los das vantagens de um projeto de mineração. Ela passou por cima do processo político das comunidades, incentivando a criação de duas associações indígenas para lutar contra a consulta e a criação do parque", diz Sergio Vasquez, assessor jurídico da Fundação Gaia Amazonas, uma organização que acompanha os povos indígenas no fortalecimento de seus direitos.
Em 2007, as ações da mineradora levaram as comunidades do lado de Vaupés a criar a Associação das Comunidades Indígenas de Taraira Vaupés (Acitava).
Em 2014, a Corte Constitucional anunciou uma sentença que constatou que o objetivo da empresa mineradora Cosigo Frontier Mining Corporation era "distorcer os benefícios derivados da declaração de um Parque Natural Nacional, persuadir as comunidades sobre os benefícios da mineração, avançando uma possível campanha de desinformação".
partir deste processo, aprenderam que as grandes empresas de mineração podem romper sua dinâmica cultural e coletiva e, por esta razão, estão agora mais unidas. As comunidades localizadas na região de Vaupés receberam o nome da Associação de Capitães de Yaigojé Apaporis Vaupés (Aciyava) para trabalhar em conjunto com a organização ACIYA do Amazonas.
Robin destaca a força organizacional, assim como sua cultura, idiomas e crenças que ainda preservam. Ele, por exemplo, um homem de voz pausada, conta que além de sua própria língua Macuna, ele entende e fala "tanimuka, letuama, cavillarí e um pouco de yukuna" – cinco das sete línguas sobreviventes.
Os Jaguares do Yuruparí, semeadores de mandioca brava e doce, tecelões de cestas de fibras das palmeiras que crescem na selva e cantores de orações sagradas, hoje têm outros medos. As ameaças da mineração contra o território continuam. Eles a aproximação da pressão de garimpeiros ilegais, que entram nos rios para extrair ouro com dragas e mercúrio que contamina seus rios – enquanto observam que o governo continuar a conceder títulos de mineração.
Na Amazônia colombiana, em meio à pandemia, as autoridades detectaram em junho passado várias embarcações ilegais nos rios Puré e Purité, segundo Sousa Valencia, secretário de Agricultura do governo do Amazonas.
"Convocou-se o comitê (departamental de combate a depósitos de mineração) de forma extraordinária e as forças públicas, acompanhadas pela polícia, a força aérea e o exército, realizaram ações que levaram à destruição dessas dragas e à apreensão de alguns elementos relacionados a essa atividade", acrescentou o oficial. A operação resultou na destruição de dez dragas de extração de ouro no Parque Nacional Natural Puré.
No entanto, os indígenas advertem que dragas continuam a extrair ouro sem piedade na parte baixa do rio Caquetá.
Além disso, entre 2014 e novembro de 2020, o governo concedeu 54 títulos de mineiração para grande parte da região amazônica (que inclui os departamentos do Amazonas, Caquetá, Guainía, Guaviare, Putumayo e Vaupés), segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM) em resposta a uma solicitação da Agenda Propia. Em Vaupés, um título para a exploração de coltan (columbita-tantalita) também vem sendo questionado. Os líderes indígenas denunciaram que a consulta prévia foi violada, como relatado em Defensores dos Cerros Sagrados.
A todas essas pressões que põem em risco a vida dos povos indígenas, soma-se a Covid-19. O departamento do Amazonas foi um dos maiores epicentros de contágio no sul da Colômbia. Na área não municipalizada de La Pedrera, porta de entrada para Yaigogé Apaporis, foi o segundo foco de infecção naquela região, com 79 casos confirmados. Em 18 de fevereiro de 2021, o Instituto Nacional de Saúde da Colômbia relatou 4.531 casos e 154 mortes na Amazônia.
Na época, as autoridades tradicionais dos Yaigojé Apaporis aconselharam os indígenas a não visitar La Pedrera para evitar o contágio. Diante desta situação, muitas famílias decidiram refugiar-se na selva por um tempo. No entanto, para os mais velhos, a doença é resultado do crescente abuso da natureza.
"Entrar em locais sagrados, remover materiais e árvores é o que gera danos e é por isso que a natureza está nos causando danos. Como ela (a Covid-19) sai da terra, o que nossos anciãos fizeram para combater a doença foi mandá-la de volta à terra, para que não volte a brotar ou não seja muito grave para as comunidades", diz Robin, referindo-se às suas crenças.
Diante das múltiplas ameaças enfrentadas pelos povos indígenas Yaigojé Apaporis, seus habitantes caminharam em direção ao fortalecimento cultural e espiritual, além de implementar ferramentas externas que ajudam a reavivar as vozes de seus líderes, em defesa de seu território ancestral. Para Robin e os Jaguares del Yuruparí este lugar é considerado uma grande maloca, ou ibiari nos idiomas Macuna e Barazano.
Uma das ações de defesa que realizam desde 2018 é o Regime Especial de Gestão (REM), um sistema de proteção dos Parques Nacionais da Colômbia que transforma a Yaigojé Apaporis em uma área protegida de caráter especial onde o cuidado ambiental parte do conhecimento e sabedoria ancestral dos povos indígenas que a habitam.
Além disso, os filhos de Jaguar de Yuruparí decidiram, em 30 de novembro de 2019, criar o Conselho Indígena de Yaigojé Apaporis, de acordo com o Decreto Lei 632 de 2018 da Colômbia. Esta é uma ferramenta legal que permite aos povos indígenas funcionar como entidade pública e ter autonomia no uso de seus recursos econômicos, políticos e territoriais.
Estes processos de luta e resistência ajudaram vozes como a de Robin a permanecerem fortes. Ele é um líder que herdou as palavras de seus antepassados, incluindo as de seu pai, um dos primeiros sábios Macuna de sua comunidade.
Em sua memória ressoa a importância de preservar e viver em equilíbrio com a natureza e os lugares sagrados. "A vida é meu território e minha cultura, que estará sempre em mim e em meu espírito", diz Robin, contemplando o horizonte enquanto navega pelo rio Apaporis.
Esta história faz parte da série Flamas da Amazônia do democraciaAbierta/openDemocracy e publicado em espanhol no El País. Na Colômbia, participou a equipe intercultural da Agenda Propia, com o envolvimento de jornalistas indígenas. A série é patrocinada pelo Rainforest Jounalism Fund do Pulitzer Center. Agradecemos os testemunhos e o material gráfico fornecido por membros das comunidades retratadas nesta história, que permanecem isolados devido a Covid-19.
Comparta en sus redes sociales
Comparta en sus redes sociales
Espiritualidad para combatir la sequía que afecta a familias indígenas productoras.
La cosecha de la miel de la abeja melipona, especie sin aguijón, es una actividad ancestral de los pueblos indígenas Totonakus y Nahuas en la Sierra Norte de Puebla, en México. La producción beneficia económicamente a las familias y les permite proteger el territorio, pero hay serias amenazas sobre la actividad.
Un sabedor tradicional, una partera y un cuidador protegen el uso de las plantas, uno de los legados del pueblo indígena Misak. En la casa Sierra Morena siembran más de 200 especies de flora que utilizan para sanar las enfermedades físicas y espirituales de sus comunidades en el municipio colombiano de Silvia, en el departamento del Cauca.
Comentar